As nossas mentes são como crianças indisciplinadas!
Caros amigos e amigas,
Lembram-se do artigo Mover (com) paixão? Neste presente artigo vou continuar esse assunto, mas desta vez vou tentar analisar o tema da educação segundo os mais recentes avanços científicos.
Ao mesmo tempo que desenvolvemos a capacidade mental através do uso do corpo, também temos de desenvolver o nosso entendimento intelectual. Por isso, considero que seja fundamental implementar desde muito cedo a meditação analítica. No Tibete, as crianças começam desde novas a serem examinadas em “debates” filosóficos. E hoje em dia a ciência está a estudar de que forma podemos introduzir essa técnica na nossa educação. No debate desenvolve-se a capacidade de pensar rapidamente e também a fazer-se rápidas ligações cognitivas, para que se possa argumentar num curto espaço de tempo de forma efectiva.
Foi feito um estudo na Rússia que concluiu que as crianças de 5 anos de hoje em dia estão intelectualmente 2 anos atrasadas relativamente às crianças de há 30 atrás.
Segundo estudos modernos na área da educação e, mais especificamente, estudos na área da atenção e controlo cognitivo das crianças e adolescentes, existe uma função muito importante que deverá ser explorada desde tenra idade, chamada de “executive control”. Refere-se a um conjunto de 3 capacidades cognitivas que dependem de uma região do cérebro: o córtex prefrontal.
Uma dessas capacidades é o controlo inibitório (ou de inibição), que é a capacidade de resistir a uma inclinação forte de fazer algo, para fazer o que será mais apropriado ou necessário. Esta inibição de distrações, sejam internas ou externas, é necessária para a concentração ou atenção selectiva.
Esta capacidade inibitória de agir impulsivamente leva-nos:
– a resistir de dizer algo que seja inapropriado ou que cause sofrimento;
– ou de agir agressivamente.
Permite-nos também manter a execução de uma determinada tarefa, sem que haja interferências. Como por exemplo distrações, outros interesses, etc.
Em suma, dá-nos a capacidade de inibir inclinações fortes para desistir ou de resistir à tentação de fazer outras tarefas mais divertidas. Ou seja, dá-nos disciplina!
Esta capacidade de inibição é uma forma de controlo sobre a nossa atenção ou ações, para que não sejamos influenciados por estímulos externos ou emoções ou velhos hábitos ou até comportamentos.
Assim, esta capacidade ajuda-nos a tornar a mudança possível.
Outra capacidade do “executive control” é “working memory”, que é a capacidade de reter a informação na mente, enquanto se a trabalha mentalmente.
Os vários estudos científicos demonstram que estas duas capacidades cognitivas necessitam uma da outra. Também sabem que ao se desenvolver o “executive control” desde tenra idade vai ajudar as crianças e jovens a ter mais sucesso e a reduzir a agressividade, as doenças mentais (nomeadamente a doença de défice de atenção) e os vícios.
Estudos demonstram que os adultos também têm problemas em executar tarefas complexas que exijam estas duas capacidades cognitivas. Contudo, as crianças sofrem mais do controlo inibitório, pois são mais impulsivas. Alem disso, também são mais lentas em calcular a resposta.
Segundo os especialistas destas áreas basta darmos o tempo necessário para que criança quebre o hábito e dê a resposta correcta. E pensa-se que a doença de défice de atenção é devida ao facto de nunca se desenvolver o “executive control”.
Mas dizer à criança para parar para pensar antes de agir é contraproducente. Tem-se assim de se encontrar outras formas para “distrair” a criança.
Exemplos já estudados: cantar uma pequena canção antes da criança responder à pergunta; pedir à criança para trocar de lápis antes de responder ao exercício; em vez de se dizer à criança para ouvir a história que outra criança está a contar, dá-se uma carta com uma orelha à criança que tem de ouvir e uma carta de boca à criança que tem de contar a história, assim é como se estivessem num jogo e a criança vai cumprir essa a tarefa sem qualquer problema.
Ao contrario do se poderia esperar, estas tarefas extras não vão interferir com a validade da resposta e vão ajudar a dar o tempo necessário para que criança possa agir correctamente.
Outras formas que se estão a tentar implementar em estudos de educação para aumentar o “executive control” são:
– meditações em andamento com sino na mão, a criança não pode fazer ruído;
– artes marciais;
– yoga.
Tarefas que exijam esforço, trabalho de equipa, disciplina. Os estudos revelam que é muito importante o desafio, a actividade física e o movimento.
E quando se coloca a questão de que forma a televisão e o computador podem contribuir para essa capacidade cognitiva, a resposta é clara! Estes meios de comunicação são feitos a pensar que as crianças têm esta capacidade pouco desenvolvida, por isso, exige da criança muito menos esforço. Todas as imagens e sons vão levar com que a criança não tenha de usar a imaginação, a criatividade. Alem disso é uma tarefa individual, não desenvolve a parte social.
Segundo estes cientistas, uma das tarefas que mais desenvolve as crianças desde tenra idade é ler ou contar histórias a uma criança: a criança ouve e pode imaginar, associar ideias e imagens, etc.
E o mais importante é começarmos a implementar as qualidades internas desde cedo. As crianças, assim como todos os jovens e adultos, necessitam de afeto. Desenvolver uma ética sem conotações religiosas na educação é fundamental. Porquê sem conotação religiosas? Por só assim serão universais. Baseadas na lógica e na razão e não na fé cega e fundamentalista que só traz discórdia.
E a qual a base de toda a ética? A compaixão! A compaixão é o desejo que todos os seres sejam felizes… é desejar que cesse o sofrimento… é a não-violência em palavras, ações e pensamentos.
Todas as regras de ética não são mais que um subproduto da compaixão… pois se tivermos compaixão, jamais iremos agredir outra pessoa, roubar ou matar, etc. E agiremos não porque temos de seguir determinadas regras ou valores impostos, mas porque já desenvolvemos um coração compassivo. Desta forma, é algo natural, sem esforço!
É, como Dalai Lama diz, tentar cultivar um grande NÓS em vez do eu e tu, da minha família e tua família, do meu país e teu país…
Por isso, o meu mestre Tulku Lobsang, quando os pais lhe pedem conselhos porque os seus filhos têm cada vez mais dificuldades na escola – não param quietos, as suas mentes não estão atentas e não se interessam por nada – diz para que as crianças façam, como exercício, desde tenra idade, prosternações.
No Tibete, os alunos respeitam os professores e Lamas do fundo do coração e, por isso, fazem sempre prosternações diante deles. No ocidente, porém, as crianças aprendem a criar uma forte noção de “eu” desde o primeiro dia de escola. O objectivo das prosternações não é humilhar e dizer que o Mestre está a um nível mais elevado que eu… nada disso! O problema não é esse. O problema é o nosso “eu” estar demasiado elevado. Então, as prosternações são uma forma de diminuirmos a nossa forte noção de “eu” perante alguém que já tem uma mente mais pura e que dessa forma nos pode ajudar. É uma forma de cultivar o respeito por alguém que nos quer e pode ajudar (se assim o permitirmos), como o caso de um professor ou de um mestre.
Na minha perspectiva, o que está a faltar nas crianças de hoje é o desafio, o esforço, a disciplina e, principalmente, a semente da compaixão…
Esta mensagem não é apenas para os professores, mas para os pais que são os principais responsáveis pela educação dos filhos.
Na minha experiência pessoal, como não sou mãe, não sei o que é verdadeiramente educar uma criança. Mas respeito muito essa função, pois tenho noção do quanto é difícil essa tarefa.
Contudo, sei o quanto é importante cultivar a compaixão… este ingrediente torna tudo mais simples. E se os pais já tiverem essa semente germinada nos seus corações, creio que será bem mais fácil de a cultivar nos corações dos seus rebentos!
E lembrem-se que a compaixão não é fazer tudo o que o outro gostaria que fizéssemos… nada disso! Compaixão é agir sempre em benefício dos outros, mesmo que isso passe por sermos rígidos, por mentirmos, por nos comportarmos de maneira estranha ou mesmo ficarmos no silêncio… não é fácil, é preciso ser sábio! Normalmente ou agimos de acordo com as regras da sociedade, da religião, da cultura, etc ou então de acordo com o nosso ego… Por isso, é tão difícil ajudar os outros. Nunca sabemos se estamos mesmo a ajudar de verdade!
É por este motivo que é tão importante começarmos a cultivar o que sentimos e não os nossos pensamentos e emoções. O sentimento é puro, vem do coração! A emoção é produto dos pensamentos, dos nossos registos mentais, do nosso karma…
Como fazemos? Temos de educar as nossas mentes… intelectualmente são adultas, mas emocionalmente são autenticas crianças!
Acho piada quando ouço pais a quererem ensinar técnicas de meditação às crianças! Sim, é excelente… mas e os próprios pais que fazem para a sua própria educação mental?
Lembrem-se que a nível emocional, somos piores que crianças!
Por isso, esta mensagem não é só para as crianças, jovens, educadores, professores, mas sim para TODOS nós!
Com toda minha dedicação e entusiasmo,
Ana Taboada
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